26 maio 2006

Questão operacional ou falta de visão?


Uma das reclamações mais recorrentes que se pode verificar nas academias e fóruns ligados às lutas é, sem dúvida, a impossibilidade de acompanhar ao vivo os principais eventos de MMA, mas precisamente UFC e PRIDE.
E o pior é que, em 2005, o canal Premiere Combate (Globosat) apresentou como degustação quatro eventos do PRIDE transmitidos diretamente do Japão. Para os amantes do MMA foi algo parecido como ter quatro copas do mundo em um só ano, madrugadas percorridas na expectativa de acompanhar, principalmente, as vitórias dos brasileiros em ação.
Apesar de toda a vibração o canal anunciou que não renovou o contrato e as transmissões cessaram, deixando os telespectadores à deriva na internet. As reações foram muitas, incluindo, inclusive, campanha de cancelamento de assinatura em massa no principal portal de MMA do Brasil.
Apesar da revolta e decepção, insisto em ver a decisão da Globosat com outros olhos e tentando entender a postura do canal Premiere Combate. O fato é que o MMA tomou a dimensão que tem hoje devido à aceitação no mercado, principalmente o japonês e americano.
As vendas de produtos ligados às lutas, incluindo as transmissões televisivas, formaram um novo filão de negócio, estimulando novos eventos e novos lutadores. A inexistência da mais valia (tradução marxista de lucro) fatalmente condenaria aos antigos e românticos embates dos gracies contra outras artes.
Em recente entrevista ao “site” faixapreta.com, o diretor dos canais Premium da Globosat, Elton Simões, afirmou que a dificuldade de compra dos direitos ao Pride decorre, exclusivamente, do preço pedido e as dificuldades de efetuar a transmissão ao vivo, que, segundo Elton, encarece em de 2 a 3 vezes o valor do evento.
Comentou ainda, que o pagamento do preço pedido pela DSE praticamente inviabilizaria o canal, fazendo com que o prejuízo fosse maior:
“Consideramos o PRIDE muito importante, por isso estamos fazendo um grande esforço para comprá-lo. Porém, entre as responsabilidades de um canal, está a garantia de dar continuidade a ele. Se pagássemos o que o PRIDE está pedindo não teríamos mais o canal.”
Antes de concluir pelo descaso do canal com os telespectadores, é necessário verificar que o Premiere Combate não parou o investimento nas lutas, tendo adquirido, recentemente, um pacote de 24 lutas para este ano, o que atende ao pedido de 42% dos assinantes do canal (segundo a Coluna Controle Remoto do Diário do Nordeste). Além do boxe, que é um bom programa, a Globosat adquiriu ainda o K-1 e Cage Rage, mas nenhum destes ao vivo.
Apesar de reconhecer as dificuldades no fechamento do negócio, o que causa estranheza é o fato das lutas ocuparem, segundo reportagem do JB em 29/09/02, o segundo lugar da preferência dos assinantes, perdendo apenas, é óbvio, para o futebol, mas ficando à frente de esportes tradicionais como vôlei (3º colocado), o futsal (4º), o tênis (5º), o automobilismo (9º) e o basquete (20º).
Segundo o Jornal, em agosto de 2002 o MMA foi visto por 69.040 assinantes (52,1%) do público que viu futebol (132.417). Pela quantidade de aparelhos ligados, dado que serve para a contagem da audiência, o quadro fica ainda mais favorável ao MMA, já que contou, no período, com 2,3% dos aparelhos legados, quando o futebol obteve 3,5%.
É inegável que as transmissões ao vivo de 2005 aumentaram o número de assinantes, e o público do MMA, apesar de praticamente ignorado pela TV aberta, cresce ano a ano, potencializando, ainda, mais, o mercado da Globosat.
É impossível ignorar as dificuldades da aquisição do PRIDE, mas é incompreensível o canal não se aliar aos produtores brasileiros para a realização de eventos em terras brasileiras. Jamais alcançaremos, ao menos nesta geração, o nível de fanatismo que existe no Japão, aonde a admiração pelas lutas vem desde a era dos samurais, mas o Brasil é certamente o maior celeiro de lutadores do mundo e a existência de um GP com bolsas dignas e compatíveis com a realizada brasileira, com certeza iria alavancar os índices de audiência.

É muita audiência represada.

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