10 fevereiro 2006

Carlson Graciel - Especial V


Carlson Gracie X Waldemar Santana
Característica comum aos mitos, muito se falou, e se fala, sobre o lutador Carlson Gracie e sua supremacia nos anos 50 e 60.
Da mesma forma que acontece com Heleno de Freitas no futebol, as realizações dificilmente possuem comprovação material, apenas tornam-se verdade pelas transmissões de geração em geração.
Às vezes, porém, surgem elementos probatórios, como, no caso, esse pequeno vídeo da luta entre Carlson e Waldemar Santana. É pouco pelo que a luta representa, mas já é um bom começo.
para ver o vídeo da luta:
http://www.graciemiami.com/videos/Carlson.mpg

07 fevereiro 2006

Márcio "Pé-de-Pano" Cruz arrassa no UFC 57


Quando li as primeiras notícias sobre a vitória do Pé, até achei que iria dar o braço a tocer, já que ele teria vencido com interrupção do Juiz após um soco abrir o supercílio de Frank Mir. Logo eu que tinha chamado o boxe dele de cômico.
Assistindo a luta, contudo, continuo com a posição anterior. Para o Pé-de-Pano virar um top, terá que dar um jeito na trocação.
Não, não há contradição com o título. O Pé, apesar de tudo contra ele, arrasou.
Sua luta contra Frank Mir era, ao menos para a organização do UFC, uma escada para o americano disputar o cinturão no UFC 59, pois antes mesmo do resultado da luta Frank Mir já tinha garantida sua chance de desafiar o campeão Andrei Arlovisk no UFC 59. Márcio Cruz entraria apenas para dar rítimo a Frank Mir.
Já no início do combate dá para perceber que o carismático (sim, Pé-de-Pano largou a mascara da arrogância e está simpático com todos) não tinha o apoio da torcida americana.
Quando a luta começa, fica claro que a nobre arte não tem o brasileiro como especialista. Mas apesar do boxe do Pé-de-Pano ainda ser muito ruím, seu chão é excepcional. Derrubado pelo Frank Mir (o Pé também precisa melhorar nas quedas), manteve a calma, inclusive defendendo uma kimura sem demonstrar que sentia o golpe. Quando os dois levantaram-se, Márcio Cruz consegiu levar a luta para o chão caindo por cima na meia guarda.
Daí pra frente não houve mais resistência. O excelente chão do Pé-de-Pano não deixou que Frank Mir fizesse qualquer movimento. Preso ao chão o Americano foi alvo fácil para os socos e cotoveladas do Brasileiro, até que o supercílio abrisse e o sangue escorresse. Mesmo após uma breve interrupção médica, com a luta recomeçando na meia guarda, não houve como o UFC proteger Mir, já que o castigo continuou, obrigando a interrupção pelo Juiz e a vitória do Pé.
Para ver a luta do Pé-de-Pano contra Frank Mir

05 fevereiro 2006

Por muito tempo não houve quem não temesse

Carlson Gracie Tean

Carlson Gracie – Especial I


Carlson Gracie – 1933 – 2006
Faleceu na última quarta-feira (01/02/06), na cidade de Chicago – EUA, Grande Mestre de Jiu-Jitsu, faixa coral nono grau, Carlson Gracie, vítima de complicações renais advindas do agravamento de diabetes.
Carlson, que tinha 72 anos, nasceu no Rio de Janeiro em 13/08/33 e foi um o maior responsável pela divulgação do jiu-jitsu quando se afastou do Mestre Hélio Gracie para trilhar seu próprio caminho e abrir diversas academias da arte suave em sua cidade natal, ensinando, inclusive, para alunos que não possuíam condições para pagar as aulas.
Lutador de vale tudo, Carlson foi o melhor de sua época (anos 50 e 60), liderou os atletas da arte suave no desafio JJxLuta Livre (ver posts neste blog) e se transformou no primeiro manager a formar uma equipe de ponta (Carlson Gracie Tean).
A pouca profissionalização da equipe, porém, fez ruir o time e remeteu o Mestre a novo início, desta vez em Chicago/EUA, onde preparava seu inevitável retorno.
Até o esta madrugada (05/02/06) as notícias que chegavam informam que o corpo será cremado nos Estados Unidos e as cinzas trazidas para o Brasil.

Nesta série especial sobre a história de Carlson Gracie vai um pouco da trajetória de um mito.

Carlson Gracie – Especial II

O Atleta
Na sua época (anos 50 e 60), foi o maior lutador de vale tudo do país, tendo estreado com 17 anos. Das diversas lutas que fez Carlson sempre destacou como adversário mais difícil Ivan Gomes, também aluno de Hélio Gracie. Em 1965, em entrevista à Revista do Esporte, Mestre Hélio Gracie desafiou todos os lutadores presente no IV Mundial que se realizava no Rio para uma luta contra seus dois pupilos, o que não ocorreu. A luta entre os dois terminou empatada, resultado comum em uma época em que não havia juízes ou decisão fora nocaute, finalização ou desistência.
A constante lembrança do nome de Ivan Gomes como sua luta mais difícil, traz, a meu ver, uma das maiores características/qualidades do Mestre Carlson Gracie: a fidelidade.
Ivan Gomes não só foi um dos maiores lutadores de jiu-jitsu de seu tempo, mas criou também um método de ensino diferente dos utilizados pelos gracies. Ainda hoje existem academias em Campina Grande e em Pernambuco que aplicam seu método. Há inclusive uma Federação Pernambucana de Jiu-Jitsu Tradicional Sistema Ivan Gomes. A Federação, contudo, sempre reclamou de um suposto boicote cometido pela CBJJ.
Se verdade, as constantes menções do Mestre a Ivan Gomes ajudaram a impedir que um mito do esporte caísse no esquecimento.
Apesar da luta contra Ivan Gomes ser eleita a mais difícil, com certeza o combate contra Waldemar Santana foi o que mais projetou o nome de Carlson na história. Waldemar, chamado de Leopardo Negro, também aluno de Hélio Gracie, se desentendeu com o Mestre quando aceitou lutar no Palácio de Alumínio, local tradicionalmente destinado eventos de tele catch (marmeladas) e o Mestre Gracie, que temia pelo desprestígio do Jiu Jitsu, ameaçou expulsar o discípulo. Waldemar ignorou a ameaça e lutou (venceu com menos de sete minutos). Com a expulsão se criou a inimizade e o desafio ao antigo Mestre.
Posteriormente Waldemar Santana desafiou Hélio Gracie, com quem lutou 3 horas e quarenta minutos, sendo que a luta terminou quanto o Santana "ergueu Hélio Gracie sobre os ombros e o arremessou ao ringue. Em seguida, encerrou o combate com um violento chute no rosto, levando o seu antigo mestre a perder os sentidos".
Depois Waldemar Santana virou ídolo nacional, sendo paparicado pela imprensa (tem até um estádio de futebol com seu nome na Bahia, na cidade de Jequié). Com a derrota do Hélio, único da família que podia lutar, Carlson assumiu as dores da família e desafiou o Waldemar Santana. Foram ao todo seis lutas, tendo Carlson vencido quatro e empatado duas.

Carlson Gracie – Especial III


Independência e personalidade
De seus ensinamentos surgiu a nova geração e que foi responsável por defender o jiu-jitsu no desafio contra a luta livre em 1991 (ver os posts abaixo sobre o desafio) e nos primórdios do MMA. Entre eles pode se destacar Fábio Gurgel; Vitor Belfort, Wallid Ismail, Paulão Filho, Ricardo Arona, Murilo Bustamante, Ricardo Libório, Zé Mário Sperry e Luis Roberto Duarte, os últimos quatro responsáveis pela fundação da Brazilian Top Tean e protagonistas de uma passagem conturbada na saída do Carlson Gracie Tean.
O afastamento do Hélio Gracie além de proporcionar maior popularização do jiu-jitsu, possibilitou uma visão mais aberta e moderna a Carlson. Enquanto a vertente tradicional da família ainda encarava o vale tudo (UFC, Japan Open, Pride) como desafio ao jiu-jitsu e, por conseguinte, à família, Mestre Carlson já semeava o profissionalismo ao encarar o treinamento de outros lutadores (inclusive não praticantes de jiu-jitsu) como parte do negócio.
Em 1998 chegou, inclusive, a treinar Wallid Ismail contra Royce Gracie em uma arena montada na praia de Copacabana. Na polêmica luta, o discípulo mais fiel de Carlson apagou Royce, com um reloginho, em cinco minutos. Além do fato de ser treinado por um Gracie, outro aspecto controvertido pairou sobre a luta. Royce, e seu staff, sempre alegaram que Wallid se utilizou de um kimono preparado que dificultava os ataques. Assim, enquanto o Gracie tentava o estrangulamento, Ismail ficou livre para o contragolpe. Após a derrota Royce Gracie perseguiu a revanche, inclusive em campeonatos, mas Wallid sempre negou a oportunidade.
A divergência nas lutas com a vertente tradicional, porém, se limitou aos tatames, tendo Carlson declarado que nunca treinaria alguém para uma luta de MMA contra a família.

Carlson Gracie – Especial IV



Carlson Gracie Tean

Mas se no lado técnico Carlson esteve adiantado no mundo do MMA, na parte gerencial sofreu com o amadorismo. As vitórias, principalmente com Vitor Belfort, inclusive uma arrasadora contra Wanderlei Silva no UFC Brazil, trouxeram alegrias, mas também divergências. Apesar de várias versões para a diáspora ocorrida na Carlson Gracie Tean, incluindo uma que o Mestre teria expulsado Ricardo Libório após este mostrar algumas posições de defesa com o mesmo Wanderlei, no UFC 25, o que teria provocado, dias depois, a saída de Sperry, Libório, Bebeo e Bustamante, a mais aceita, com certeza, foi a divisão dos lucros.
Em uma época em que as lutas não davam lucro, ao menos grandes dividendos, o fio do bigode era o suficiente para manter qualquer time, prevalecendo o respeito e a fidelidade. A entrada de grana, contudo, modificou o mundo do vale tudo, e a divisão das bolsas certamente provocou divergências entre aqueles que lutavam, os que treinavam e empresários.
Não se trata, é melhor deixar bem claro, de emitir juízo de valor, mas o dinheiro é motivo de divergências em qualquer esfera e em qualquer negócio, vide, por exemplo, a separação da equipe Godoi/Macaco; o esfacelamento do império das Indústrias Reunidas Matarazzo (quando os descendentes brigaram pelo poder); Daniel Dantas (Banco Opportunity) x Telecon Itália. Em qualquer negócio que envolva dinheiro, mesmo sob ato, as divergências pipocam.
Na Carlson Gracie Tean além de não ser diferente foi agravado pela ausência de profissionalismo na elaboração de contrato. Por anos e anos o Mestre reclamou da ingratidão, de forma extremamente contundente, dos seus discípulos.
Questionado, em entrevista ao site surfway, sobre eventual retorno de Vitor Belfort, Carlson disparou: “Nenhuma, isso é impossível, como é que eu vou aceitar um traidor, um mau caráter e um amolecedor de luta. Pesquisem bem que ele levou grana para amolecer certa luta.”.
Anos antes a relação com o Fenômeno era diferente, tendo o Mestre declarado: "Ele (Belfort), para mim, é como se fosse um filho. Largou tudo pelo Jiu-Jitsu”.
Além de tirar a possibilidade de independência financeira, a separação da equipe interrompeu a trajetória de sucesso do Treinador/ Manager, que desfalcado de seus principais atletas, desde 2000, não logrou colocar outros lutadores entre os melhores do MMA.
A morte do Mestre lançou dúvidas, inclusive, quanto à sua saúde financeira, já que dias após o falecimento circularam (em nome da ex-mulher como do filho), e ainda circulam, alguns pedidos de contribuições para ajudar nas despesas do funeral. Em pouco tempo Rose Gracie, filha de Rorion Gracie, publicou mensagem (news.adcombat.com) agradecendo o apoio e desmentindo a necessidade de ajuda financeira, esclarecendo que a família cuidaria de tudo.
Mais polêmico do que suas frases de efeito, Mestre Carlson ficará na história como o Gracie que desafiou a trilha de sua família e, honrando a tradição da mesma, difundiu ainda mais o Jiu-Jitsu e se transformou no primeiro formador de grandes nomes e equipes do MMA.
Fará muita falta.
Que descanse em paz o Guerreiro Carlson Gracie.