A pré-história do MMA
Passados quase dezesseis anos, o desafio Luta Livre vs Jiu-Jitsu soa como história dos antigos, já que atualmente a maioria dos praticantes não conta trinta anos.
Em 1991, porém, o cenário das artes marciais vivia em clima tenso. Depois da 1ª Geração da Família Gracie com a fase “romântica” do vale tudo, onde prevalecia a vontade dos lutadores, a honra da supremacia de suas modalidades e os constantes desafios diretos, muitas brigas ocorriam nas ruas do Rio de Janeiro e em outras cidades.
Lembro-me, muito bem, de alguns verões em Cabo Frio, quando muitos, como eu, desacostumados com lutadores de jiu-jitsu, os via com desconfiança, principalmente por nunca tirarem a camisa com o nome da arte estampado. Não raro as brigas, também não freqüentes, tinham os praticantes de jiu-jitsu no meio.
Não que o desafio de 1991 fosse inédito, pois em 1984 outro foi realizado no Maracanãzinho, com Eugênio Tadeu (luta livre) nocauteando Renan Pitangui (JJ Ac. Gracie), com o empate entre Marco Ruas e Fernando Pinduka (JJ Ac. Carlson Gracie) e com a vitória (socos na montada) de Marcelo Behring (Ac. Gracie) sobre Flávio Molina.
O que deu ao desafio de 91 maiores dimensões foi a decisão da Rede Globo em apoiar e transmitir ao vivo o embate, provocando a imprensa a cobrir as lutas. Em entrevista à revista Tatame (edição de dezembro de 2004) Wallid Ismail, que lutou o desafio, esclarece um pouco a entrada da Televisão ao mencionar que o Róbson Gracie, que estava envolvido na produção do evento, havia convencido a emissora que não haveria muita violência.
O próprio Róbson Gracie, em entrevista à mesma revista, reconhece que na idéia inicial não seriam permitidos dar socos: “Realmente não valia. A idéia era que não acontecesse”.
No dia, contudo, as regras foram respeitadas apenas nos instantes iniciais do primeiro round entre Wallid Ismail (JJ) e Eugênio Tadeu (LL), quando a luta começou com franca trocação. Após levar a luta para o chão e resistir a uma kimura de Eugenio Tadeu, Wallid contra-atacou com uma cabeçada que abriu o supercílio do adversário.
Com violência do embate, os apresentadores da Rede Globo não retornaram para anunciar as outras lutas, mas a transmissão não deixou de registrar a vitória do amazonense Vallid Ismail, ainda faixa marrom, de Murilo Bustamante (contra Marcelo Mendes, que saiu do ringue, após ser castigados por uma seqüência de socos na guarda, durante a luta e não voltou) e de Fábio Gurgel contra Denílson Maia (interrupção do arbitro após uma a montada de Fábio Gurgel).
Além da explosão do jiu-jitsu nos anos seguintes, o desafio trouxe outras conseqüências, como, por exemplo, a constatação de que o vale tudo poderia sair das feudais lutas de rua para um evento de proporções maiores e mais profissionais.
Neste norte, três anos depois, Rorion Gracie criaria o Ultimate Fighting Championship (UFC) lançando a semente que se transformaria o vale tudo em MMA (mixed martial arts) e sedimentaria a profissionalização do esporte.
Mesmo no campo técnico o desafio deixou suas marcas, tendo o líder da Chute Boxe Rudimar Fedrigo, após assistir o evento, orientado seus atletas de Muay-Tahi a praticar o jiu-jitsu.
Para saber mais: Revista Tatame n. 106 - dezembro de 2004
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