05 março 2006

CBJJ - hora de mudar


Há muito tenho repetido que, apesar do bom trabalho feito pela CBJJ no início da organização do esporte, já é hora de mudanças. Não nego a importância da eterna gestão do Carlinhos Gracie frente à maior organização do JJ do mundo. Foi com ele à frente da CBJJ que a modalidade se organizou e, principalmente, deu ao mundo os parâmetros para sua prática. Desta forma se impediu que o JJ ganhasse, em cada país ou região, contornos próprios, com regras separadas, o que implicaria, fatalmente, no arrefecimento do JJ.
Ocorre, contudo, que nos últimos anos a CBJJ passou a ser feudo de alguns, servindo muito mais para garantir o espaço conquistado do que para ajudar o esporte a crescer.
Não há argumentos que me faça perdoar a ausência de uma ampla campanha em todo o Brasil, movimentando cada academia, para incluir o jiu-jitsu no pan-americano de 2007, ainda que como esporte de exibição.
Muitos países já conseguiram incluir esportes mais esdrúxulos nas olimpíadas, como aquela tal de curling em que alguém joga uma panela e outros dois varrem o gelo para a panela escorregar mais rápido ou devagar. Recentemente ouvi na transmissão (na spor ttv, não me lembro o comentarista) dos Jogos Olímpicos de Turim 2006 que se houvessem os jogos olímpicos de praia o “esquibunda” estaria bem cotado para ser uma modalidade olímpica.
Pois é, pode parecer incrível, mas já incluíram “esquibunda” em jogos fictícios mas ninguém, na grande mídia, menciona a inclusão de um esporte que se propaga mundialmente nos Jogos Pan-Americanos de 2007, logo estes, realizados na meca do jiu-jitsu. Erro fatal.
É por isso que vejo com certa satisfação o artigo escrito por Reila Gracie, publicado no Jornal do Brasil em 13/08/05, mostrando-se insatisfeita com os rumos da CBJJ.
Com a palavra Reila Gracie (na foto acima cuidando de seu filho Roger no mundial):

"Jornal do Brasil - RJ13/08/2005 - 08:12

O sonho olímpico
O jiu-jítsu é o esporte individual brasileiro com mais penetração no exterior. Hoje o número de adeptos mundo afora é incalculável
Reila Gracie
Com o reconhecimento oficial e a legalização da Federação Carioca de Jiu-jítsu, em 1973, o jiu-jítsu se transformou oficialmente em esporte. Este advento representou para Carlos Gracie, meu pai, a realização de um sonho acalentado ao longo de sua vida: o de tornar o jiu-jítsu esporte para inseri-lo na formação educacional da juventude brasileira de maneira mais eficaz e abrangente. Como fez Gigoro Kano no Japão, no início do século 20, quando integrou o judô ao sistema educacional japonês. Como esporte, além da função educacional, o jiu-jítsu brasileiro ainda permitiria aos atletas sonharem com o pódio olímpico, considerado o mais elevado do mundo esportivo.
Com a realização do primeiro campeonato mundial de jiu-jítsu pela Confederação Brasileira de Jiu-Jítsu (CBJJ), em 1995, e os campeonatos pan-americanos, realizados nos Estados Unidos, o jiu-jítsu parecia ter ingressado na maturidade profissional, tornando o sonho olímpico mais próximo e real. Dez anos depois, entretanto, constatamos que, ao priorizar outros objetivos, a CBJJ não conseguiu sequer inserir o jiu-jítsu como esporte de exibição nos Jogos Pan-Americanos de 2007, cuja cidade sede será o Rio de Janeiro, considerada mundialmente a meca deste esporte.

O jiu-jítsu é o esporte individual brasileiro com mais penetração no exterior. Hoje o número de adeptos mundo afora é incalculável. É citado em grandes produções cinematográficas e incluído em diversos documentários realizados sobre lutas e artes marciais no estrangeiro. Nos últimos cinco anos, o interesse pelo jiu-jítsu no exterior só vem aumentando, enquanto, inversamente, o seu prestígio no Brasil diminui a cada ano.
Para entender essa contradição é importante relacioná-la ao fato de a CBJJ, a instituição mais elevada do jiu-jítsu, ter deixado de ver os Jogos Olímpicos como uma meta a ser alcançada. Para participar dos Jogos Olímpicos, o Comitê Olímpico Brasileiro e o Internacional exigem um nível de rigor de organização e postura profissional que a CBJJ vem demonstrando estar longe de possuir e querer conquistar. Uma prova recente foi o último campeonato mundial realizado no final do mês passado com participação de cerca de 1.400 atletas e um público cada vez maior. O que se viu foram atletas amadurecidos que investiram alto em suas carreiras, enquanto a CBJJ produziu um evento amador e desestruturado, com árbitros desqualificados e num local que há muito tempo já não oferece condições de abrigar tanta gente. O prejuízo que a falta de profissionalismo institucional acarreta ao esporte é enorme, pois compromete a credibilidade das competições e induz, inevitavelmente, os atletas de ponta a buscarem, precocemente, no Vale-Tudo, uma perspectiva e retorno profissional que a carreira esportiva não lhes pode proporcionar. Agora é um outro momento e urge um novo salto de qualidade, retomando e revigorando o projeto de levar o jiu-jítsu brasileiro ao pódio olímpico. Os praticantes e amantes do esporte precisam unir-se em torno desse sonho, pois o jiu-jítsu tem engrandecido o país no mundo inteiro e, com certeza, como esporte olímpico trará muitas medalhas para o para o Brasil."

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